sábado, 13 de octubre de 2007

Se tu fores ver o mar...




Rosalinda,
se tu fores à praia, se tu fores ver o mar,
cuidado não te descaia o teu pé de catraia
em óleo sujo à beira-mar,
cuidado não te descaia o teu pé de catraia
em óleo sujo à beira-mar.

A branca areia de ontem
está cheínha de alcatrão.
As dunas de vento batidas
são de plástico e carvão,
e cheiram mal como avenidas,
vieram para aqui fugidas a lama, a putrefacção.
As aves já voam feridas,
e outras caem ao chão.

Mas na verdade, Rosalinda,
nas fábricas que ali vês
o operário respira ainda, envenenado,
a desmaiar, o que mais há desta aridez.
Pois os que mandam no mundo
só vivem querendo ganhar,
mesmo matando aquele
que morrendo vive a trabalhar.

Tem cuidado, Rosalinda,
se tu fores à praia, se tu fores ver o mar,
cuidado não te descaia o teu pé de catraia
em óleo sujo à beira-mar,
cuidado não te descaia o teu pé de catraia
em óleo sujo à beira-mar.

E em Ferrel, lá para Peniche,
vão fazer uma Central
que para alguns é nuclear,
mas para muitos é mortal.
Os peixes hão-de vir à mão,
um doente, outro sem vida, não tem vida o pescador.
Morre o sável e o salmão,
"Isto é civilização", assim falou um senhor.

Tem cuidado, Rosalinda,
se tu fores à praia, se tu fores ver o mar,
cuidado não te descaia o teu pé de catraia
em óleo sujo à beira-mar,
cuidado não te descaia o teu pé de catraia
em óleo sujo à beira-mar.


(Fausto, Madrugada dos Trapeiros, 1978)




Recordos de nena, de vinilos co roce dun silencio, dunha respiración, dun arañazo. De miña nai cantando.

De cando non entendes palabras doutra lingua, en entón semellan misteriosas, máxicas, coma un conxuro indescifrable. Eu pensaba que era Rosalinda, co meu pé de catraia para Fausto, co meu pie de chiquilla para Luis Pastor.



[Podedes escoitala en http://www.udc.es/dep/lx/cac/sopirrait/audio/rosalinda.htm]







2 comentarios:

  1. Silencios pero non de cando non se fala, run run de cando escoitamos de dois en dois...

    No run run da infancia escoito a túa voz, intriga, Rosa Linda, a intriga de querer saber cada vez máis... nun run run perenne de sabor doce e textura do mar...

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  2. E quen senón ti podía ser Rosalinda, rosa linda, linda rosa, nena nosa?

    Teu pai máis eu, olhándote embobados.
    El suxeitando as túas manciñas en alto e eu sostendo os teus berros de sustorrisa.

    Nena nosa, catraia eterna, sorprendida de ver a area fuxindo debaixo dos pés, unha vez, outra vez, e outra....

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